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O Evangelho segundo Jesus Cristo

Encontramo-nos no ano zero. Certo dia, José e Maria de Nazaré recebem a visita de um mendigo que lhes pede comida. Ao devolver a tigela, o mendigo, anuncia a Maria que esta está grávida e oferece-lhe uma estranha terra luminosa desejando-lhe que o filho não tenha o mesmo destino que ele. Em "O Evangelho segundo Jesus Cristo" é-nos contada a história humanizada da vida de Jesus filho de Maria, que “conhece o amor da carne e nele se reconheceu como homem”. Esta perspectiva, da humanização de Cristo, distancia-se largamente da representação tradicional do Evangelho, evidenciando a fragilidade e vulnerabilidade de Jesus, um homem que não compreende a metamorfose a que está sujeito e que liminarmente a rejeita. É a história de toda uma humanidade que se encontra à mercê dos desígnios de um Deus, contra os quais não pode lutar quaisquer que sejam, e em nome do qual tudo é permitido e justificado até o ato mais cruel e horrendo. A presente adaptação trata, simplesmente, de transpor para uma dimensão terrena um homem, a quem foi atribuída uma função sobre-humana que nunca pediu, nem desejou, e quais as consequências deste destino na sua vida e no mundo que o rodeia. Esta obra cinematográfica "O Evangelho segundo Jesus Cristo", põe de parte as questões polémicas que se levantaram aquando da publicação do livro de José Saramago e aspira ser a simples transposição para cinema de uma das mais belas narrativas escritas em língua portuguesa.

Nota do diretor

O que me atrai neste livro é a ideia de culpa, de impotência e de livre arbítrio. A culpa como um estado psicológico existencial. A impotência não só da humanidade em geral mas sobretudo, a de Jesus perante um desígnio que o ultrapassa, que não desejava e, a forma inevitável como terá de o aceitar. Existe neste Jesus uma espécie de recusa adolescente que vai dando lugar a uma serenidade e secura. Uma espécie de passagem para a idade adulta. E o livre arbítrio como que manietado pelas duas ideias anteriores. Este filme pretende assim retratar a que ponto chega a crueldade humana, seja em nome do poder, do dinheiro, das relações ou de um deus. O grotesco neste filme assume um papel fundamental: não no sentido escabroso do termo, mas sim no sentido do reconhecimento da realidade. Trata-se simplesmente de retratar a realidade como ela é, sem subterfúgios ou condescendência, pacificando-nos com isso.

Evangelho